Semeadura

icanthelpbutwonder
1 min readSep 20, 2019

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Me vejo sorrindo entre torcer de vestidos. Assobio ao lavar a louça do café. Me pego dançando ao fazer a cama de manhã. Aliás, acordo com vontade de levantar. Ao cozinhar meu almoço, acompanho a letra da música que toca em modo aleatório. Volta e meia abro um livro da minha estante, como que para me nutrir também de ideias. Sento para escrever sem hora marcada para terminar. Converso com as plantas enquanto as rego. Observo atentamente outros cotidianos quando caminho pelas ruas de minha vizinhança. Desconheço o conceito pressa. Não sei que horas são.

Me recuso carinhosamente à tomar atalhos ou consumir coisas prontas. Não sinto vontade de recorrer a encontros casuais para ter companhia. Aliás, minha solitude nunca me foi tão prazerosa. Volta e meia me pergunto o que fiz para merecer tamanha leveza. Em seguida me lembro do caminho. Do despir de camadas que fui colecionando. Da coexistência pacífica com o medo e a certeza apenas da incerteza. Me vejo, veja só, verbalizando justamente o que quero receber e como desejo ser tratada. E não é que eu venho sendo atendida?

Vou reconhecendo com meus pés o universo particular que abrigo e que me abriga. Enxergo mistério no aparentemente banal. Gosto cada vez mais do ordinário. Vou me apaixonando por minha própria revolução. Reconheço partes de minha trajetória nas biografias de mulheres que admiro. Assumo uma nova rebeldia, viver apenas o presente. Passo a ter meus dias como norte. Em minha bússola: apenas o passo seguinte para a construção de meu destino.

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