Ode ao feminino

icanthelpbutwonder
2 min readSep 26, 2019

--

Penso que o maior luxo de uma vida onde se tem tempo para observar é poder exercer a simples e nada fácil faculdade de escolha. Uma vez sem cartilha reprodutora me vejo assumindo a postura de decidir mais alinhada com o que sinto e menos com o que penso que deveria querer. Pela primeira vez dou as mãos ao meu feminino e deixo ele me guiar.

Feminino. Feminina. Feminilidade. Feminismo. Feminazi. Fêmea. Quantos significados e conceitos podem existir partindo de um pequeno termo. Vejo que, mais uma vez, eles conseguiram nos colocar em guerra: umas com as outras e dentro de nós mesmas. Usamos de combate para provar pontos. Ignoramos o poder do sutil. Nos sentimos menos mulheres ao não sermos tão femininas. Nos sentimos menos feministas ao sermos mais mulheres. Esquecemos que feminilidade não é sinônimo de fêmea. Rotulamos de feminazi aquelas que lutam pela superação da desigualdade de gêneros. E, dentro de tantos termos, debates e opiniões o feminino ainda aguarda sua vez.

O feminino do erótico e não do pornográfico. O feminino da inteligência sutil e não da passividade. O feminino da intuição e não do puro intelecto. O feminino que recebe e não apenas doa. O feminino que se sabe capaz e não se sente uma impostora. O feminino que faz ponte com o masculino interno e externo. O feminino que não controla mas que confia. O feminino que entende a força da vulnerabilidade. O feminino que assume a rebeldia da diversão. O feminino dos afetos e não apenas das necessidades. O feminino do espiritual que é também político. O feminino que se guia na sabedoria profunda e não nas normas. O feminino que não sente culpa ao gozar da vida, das ideias e da criação. O feminino que não teme o sim. O feminino que também sabe ser não. O feminino que divide pelo prazer de compartilhar e não por mera utilidade. O feminino que sabe ser bravura enquanto tudo o que se espera é docilidade e submissão.

--

--

No responses yet