Pré Travessia

Copacabana, 2019.

“I am going to face certain things. It is going to be a time of adventure and attack,” escreveu Virginia Woolf em um de seus diários em 1929. Assim como seu livro “Um teto todo seu” me impulsionou fortemente a buscar meu lar, ainda que com alguns percalços, essa frase me fez sentir fogo interno pelo novo. Não aquele novo inevitável trazido pelos acasos da vida, mas o novo do qual eu venho me esgueirado nos últimos anos. Não, não sinto culpa por ter curtido um pouco de estabilidade, eu precisava dela. Junto com o novo que decidi encarar, estou no caminho de aprender a não julgar meus passos e processos. Enxergo a preciosidade das diversas rotas. Do chegar, do ficar e do partir.

O novo para o qual eu me direciono tem gosto de escolha. Tem alma. Requer força. E, hoje, ele é inevitável. Quando há esgotamento e não se encontra mais de onde tirar vontade é tempo de avançar para o estágio seguinte. Ouvi outro dia que a crise interna não é necessariamente algo negativo. Pode ser resultado de várias escolhas certas e, por isso, uma etapa foi concluída e outra se abre. Como um passar de ano na escola ou um passar de fase de um jogo. Só vamos para o próximo degrau quando já aprendemos o que tínhamos que aprender. Por isso cada vez fica mais claro como devo olhar com brandura para o meu passado e escolhas que me fizeram crescer imensamente. Sem fechar os olhos para meus privilégios e, tentar ao máximo não sentir culpa por vivê-los, escolho o caminho do criar. Criar minhas próprias angústias. Criar serviços a partir de minha visão de mundo. Criar troca e aprendizado. Trilhar um caminho ainda sem pegadas e pistas. É assustador e, ao mesmo tempo, excitante.

Hoje consigo identificar ao olhar para trás os períodos em que minha força vital estava ficando quase que por sua totalidade fora de mim. No trabalho, num romance impossível, na ressaca, num relacionamento sem entrega. Do agora em diante tentarei ao máximo protegê-la e direcioná-la para onde minha alma anciã entender ser o norte adequado. Por ora, essa bússola aponta para as ruas desconhecidas. Os cafés inspiradores. As manhãs com jeito de folha em branco. Os encontros com visões de mundo distintas. Vou viver enquanto deixo morrer.