figueira verde

icanthelpbutwonder
2 min readNov 16, 2022

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Campos, 16 de novembro de 2022.

vai fase, entra fase e volta e meia me vêm as palavras de Sylvia Plath à cabeça:

“[…] Eu via minha vida se ramificando à minha frente como a figueira verde daquele conto. Da ponta de cada galho, como um enorme figo púrpura, um futuro maravilhoso acenava e cintilava. Um desses figos era um lar feliz com marido e filhos, outro era uma poeta famosa, outro, uma professora brilhante, outro era Ê Gê, a fantástica editora, outro era feito de viagens à Europa, África e América do Sul, outro era Constantin e Sócrates e Átila e um monte de amantes com nomes estranhos e profissões excêntricas, outro era uma campeã olímpica de remo, e acima desses figos havia muitos outros que eu não conseguia enxergar. Me vi sentada embaixo da árvore, morrendo de fome, simplesmente porque não conseguia decidir com qual figo eu ficaria. Eu queria todos eles, mas escolher um significava perder todo o resto, e enquanto eu ficava ali sentada, incapaz de tomar uma decisão, os figos começaram a encolher e ficar pretos e, um por um, desabaram no chão aos meus pés. […]” — “A redoma de vidro”, Sylvia Plath.

é como se eu tivesse que constantemente estar avaliando o porquê de fazer o que estou fazendo, que histórias estou escrevendo a partir das minhas escolhas, de que galhos estou retirando os figos, mas e todos os outros figos que estou deixando de colher? não posso mesmo ter todos?

atualmente esses questionamentos têm vindo por conta da faculdade e por conta do D. A faculdade toma tanto do meu tempo, o estágio toma tanto da minha energia e eu não vejo retorno. e eu não tenho tanta clareza de que retorno quero que exista. é só mesmo um plano B para caso os demais não dêem certo? pq não me parece um plano B se demanda tanto de mim.

o que eu estaria fazendo se não tivesse esse compromisso?

que dinheiro estaria ganhando?

o que estaria criando?

fui tomada por uma enorme dificuldade de ficar os 6 tempos acordados no estágio, pois tudo é muito alto e já sem tanto sentido.

tb me toma uma pressa para terminar todas as minha obrigações deste semestre para que eu consiga ter espaço para existir. para ouvir o que vem de dentro para além das obrigações. para, como Virginia Woolf nos pediu,

“sonhar com livros, tardar em esquinas de ruas e deixar que a linha de pensamento mergulhe fundo na correnteza.”

sobre os amantes com nomes estranhos e profissões excêntricas conto uma outra hora.

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