Em Suspenso

Dezesseis de maio de 2020. 15:40. Rio de Janeiro. 23 graus celsius. Sábado. Tentei iniciar o dia como mais um dentre tantos. Dizia pra mim que precisava seguir com minha rotina. É ela que me traz uma sensação de normalidade diante do caos. É ela que me faz esquecer a vida que permanece em suspenso.

Há dias que uma música basta para me trazer de volta à vida. Há dias que é necessário uma penca delas. Em outros preciso também de alguns copos de café, de cerveja ou de vinho. Tento me esquecer que meus sobrinhos crescem e meus avós envelhecem. Me esforço pra não pensar nas pessoas que pouco já têm e terão ainda menos. Meus planos perdem importância diante da urgência de passar pelas semanas. Quero estar com meus amigos, ouvindo música brasileira e tomando cerveja no Largo da Prainha.

Descubro artistas latino-americanos, africanos e assisto filmes asiáticos. Caetano, Gil e Chico fazem parte das minhas orações diárias. Me transporto para dias passados. Dias sobretudo de sol, mar e liberdade. Encontro consolação na angústia compartilhada. Nas palavras dos que sentem e permitem ser atravessados. Agradeço por ter nascido brasileira e amaldiçoo aqueles que me fazem ter repulsa por meu país.

Olho pela janela de meus vizinhos. Tento imaginar o que se passa em cada apartamento. Vejo cenas de carinho. Às vezes me sinto sortuda por estar sozinha, vez em quando me sinto incapaz de receber afeto. Atualizo meu perfil num aplicativo de relacionamentos e reponho a cerveja.