E no meio do caminho

icanthelpbutwonder
2 min readApr 16, 2020

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Três dias antes de iniciar o isolamento social escrevi sobre um passeio numa manhã pelo Leme. Lendo hoje essas palavras, um pouco de um mês depois, parece que já me preparava para esse período que estamos vivendo. Quis me abastecer de cada detalhe do bairro, mesmo sem saber que não poderia caminhar normalmente por ele num futuro próximo.

Sem saber, busquei encher meu peito da maresia da manhã. Caminhei atenta percebendo o cotidiano em minha volta. Parece que era uma outra vida aquela. Antes e depois do Corona Vírus. Essa entidade invisível que mudou a rotina de todos os países desse planeta.

Passei pela fase de negação, depois a de correr para preencher todos os espaços do meu dia e me encontro agora na busca por uma presença nas minhas atividades e aceitação do vazio. Eu, tão habituada a estar sozinha e gostar disso, passei a me sentir de fato só. Em alguns momentos do dia, paro um pouco, olho pela minha janela, e me recordo que há poucos meses era Carnaval e tudo estava coberto de glitter, enquanto hoje as fantasias são compostas de máscara e álcool gel.

O futuro sempre foi uma incógnita, mas parece que agora as perguntas são as únicas certezas que temos. A ideia de auto-suficiência, seja no âmbito geopolítico, seja no âmbito pessoal, trata-se claramente de uma ilusão. O paradoxo disso tudo é que nunca fomos tão individualistas e, ao mesmo tempo, tão interdependentes.

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