Aos 23

icanthelpbutwonder
2 min readMay 5, 2020

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“Palestina? A Palestina não é um Estado.” Seus lábios que antes estampavam um sorriso me entregaram com rancor essas poucas e poderosas palavras. Há poucos minutos a senhora de olhos claros parecia encantada com nosso grupo. Como que para passar o tempo e iniciar uma prosa, indagou que locais visitaríamos. Contei que nossos destinos eram algumas cidades de Israel e da Palestina e, assim, deu-se início a nossa viagem com este incoveniente diplomático. No auge de meus 23 anos nunca havia vivenciado o poder que carrega um ponto de vista, sobretudo o meu. Que mal pode fazer uma opinião? Ali, fora da sala de aula e dos livros de História, compreendi que a liberdade de expressão é um conceito falho e que os mais sangrentos e longos conflitos se formam a partir de ideias.

Adianto que Israel não é um lugar para se visitar se você está buscando uma viagem leve e esvaziar a cabeça. Uma semana antes de nossa viagem, em março de 2011, estourou o movimento denominado de Primavera Árabe em países vizinhos aos que iríamos visitar. E a tensão só começava.

Diferente de minhas outras viagens, Israel foi um destino trazido a mim. Estava nos períodos finais da faculdade e, alunos do meu curso, juntamente com outras universidades começaram a organizar uma viagem de estudo. Através de visitas a locais históricos, cotidianos e conversas com diversas pessoas chegaríamos às nossas próprias impressões. Confesso que não previa me envolver tanto com sua história. Minha mente imatura e cheia de liberdades, queria viver lugares, pessoas e aventuras novas.

Hoje, oito anos depois, ao escrever essas linhas e a revisitar meus registros de viagem confesso que sinto um pouco de vergonha. Minhas preocupações naquela viagem eram superficiais diante da magnitude de tudo que acontecia e já havia ocorrido naquele lugar. Em nossa primeira noite em Jerusálem o foco foi, veja só, encontrar uma boate. A primeira caminhada à noite me fisgou. Aquela cidade monocromática iluminada era poética demais. Éramos jovens querendo nos enturmar com os locais. Terminamos a noite com uma carona de um israelense que conhecemos na boate que fomos. Após algum mal entendido ele falou um pouco alterado: “This is not Rio de Janeiro!” É, parece que ainda estávamos nos ambientando.

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