Amigos

icanthelpbutwonder
2 min readFeb 24, 2020

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Nos conhecemos numa madrugada de verão. Estávamos num samba lotado da Lapa. Me aproximei do bar para pegar uma cerveja e, por questões de energia ou puramente atração física,quis conversar com aquele estranho com olhos de cigano e cabelos tão negros quanto os meus.

“Quer ser meu amigo?”. A resposta veio numa língua que não esperava. Acreditava estar saindo de meu padrão de gostar de quem está separado por oceanos de distância de mim. Engatamos no inglês e a partir daí nossa amizade se estendeu por 20 dias que já me deixam saudade. O motivo que me levou a escrever essas palavras, saudade.

“Você lembra meu nome?” Estávamos juntos há quase 24 horas e não havíamos nos dado conta que não sabíamos os nossos nomes e que esse mero detalhe em nada havia influenciado nossa conexão. Demos risada de como esse fato passou totalmente desapercebido. “I have no fucking idea.”

“Por que você passa seu tempo comigo?” Não soube responder prontamente, gostava de quem eu era quando estava com ele. Compartilhei minha dificuldade em não achar as pessoas muito interessantes, mas que ele não me entediava. “É porque você sabe que vou embora em uma semana.”

“Adoro o jeito como passa seus dias.”, “Vou cozinhar para você.”, “Queria ficar aqui.”, “Vou sentir sua falta.”, “Gosto de seu sorriso.”. Passamos da fase das perguntas para a das afirmações. Compartilhei a casa e o guarda chuva por alguns dias e eu, habituada à minha solitude, comecei a encontrar espaços vazios na minha cama e nos meus dias.

Até que ela chegou — a inevitável despedida. O estranho de cabelos negros foi embora deixando uma pulseira de contas do Camboja e um lar bagunçado. Cheguei a mudar os móveis de lugar numa tentativa de arrumar também o lado de dentro. “Cuida bem desse seu lindo sorriso e obrigado por pedir pra ser minha amiga.”

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