Adentrando a floresta
Venho enxergando coisas desagradáveis a meu respeito. Sou viciada em liberdade. Não do jeito poético, do jeito de fuga. Não concluo meus caminhos. Quando me deparo com desafios dou meia volta. Sou mais obediente do que deveria ser. Adoro questionar regras, mas tenho dificuldade de substituí-las de forma sustentável. Tenho muita facilidade de ir, mas ainda preciso aprender a não sair correndo ou pedir colo quando o negócio aperta.
Venho aprendendo na teoria o que preciso praticar. A potência da vontade. O equilíbrio tênue entre esforço e entrega. A necessidade de crescer a partir das minhas limitações e não achar que vou me livrar delas. Que fazer escolhas deliberadas é mais complicado que se parece. Que meus privilégios não devem ser negados, mas utilizados de forma sábia. Que preciso acolher minhas necessidades e tratar de prover eu mesma o que preciso. Que para que o outro deixe de me dar migalhas eu devo ser a primeira a recusar as que dou a mim mesma. Que não devo me abandonar quando ficar desconfortável e entender que meu novo eu ainda está em gestação. Meus desejos também podem ser convencionais e não há nada de ilegítimo nisso.
Venho entendendo que o caminho reside mesmo em minhas contradições. Desejo de permanência e de novidade. Necessidade de instrospecção e de ir pro mundo. Vontade de mergulhar nas profundezas e retornar à superfície. Em minha vida me via de um extremo a outro, pois ainda não enxergava o valor que carrega o clichê do caminho do meio. Dessa vez não fujo. Sei que mesmo na escuridão da mata, um pé após o outro, minhas pegadas vão me levar para onde devo ir. E é ao adentrar a floresta que me lembro da máxima: sonho é destino. Ándale!