A vida dos outros
Uma sonha em abrir uma ONG para proteger vítimas de trabalho escravo desde os 20 e, 10 anos depois, finalmente consegue enxergar a materailização do que esteve por tanto tempo apenas em sua mente. Outra chama de lar a casa dos pais e a do namorado, encontra formas de se conectar com seus funcionários no ambiente muitas vezes hostil que é o corporativo e, por conta de um trabalho bem realizado,c consegue bancar suas tão desejadas viagens. Outra casou com um cara mais de dez anos mais jovem que conheceu na auto-escola, abraçou o desejo de engravidar e iniciar uma família e se mudou para uma casa gostosa numa cidade do interior. Outra ainda consegue se manter fiel ao que não quer e ensaia seus passos num mundo onde a arte é mais presente e a música, a cultura e o trabalho manual são suas reais prioridades. O que tem em comum entre todas essas mulheres com caminhos tão distintos? Apenas o fato de termos cursado a mesma faculdade.
Há um enredo clichê de filme americano onde a mocinha retorna à sua cidade natal para uma reunião de ex-colegas de classe. Geralmente nesses filmes a protagonista está em meio à uma crise pessoal e se compara com todos os ex-colegas. Sempre há o bem-sucedido, a que se tornou fisicamente irreconhecível, o que era bonitão e fazia muito sucesso e se tornou um idiota vazio e por aí seguem-se os clichês. Crescemos consumindo esse tipo de narrativa e buscando não se identificar tanto com a personagem que se sente perdida diante de suas escolhas e seu caminho. Ontem reencontrando pessoas queridas do meu passado não tão distante me vi exatamente nesse papel: criado exclusivamente por mim mesma.
Venho tentando internalizar algo que racionalmente já é muito claro para mim: comparar-se é uma espécie de auto-traição. Que eu me inspire com o que faz sentido para mim e respeite o que não faz, mas me diminuir ou me sentir superior diante de caminhos que não se assemelham ao meu é algo que preciso e desejo deixar pra trás. A vida grita para mim que há muitas formas de se passar os dias nessa breve jornada. Que eu tenha paciência e compaixão com o que eu ainda não sei, mas, mais ainda, que eu aceite as respostas que já obtive. Viver num contante estado de dúvida e auto-questionamento faz com que a vida me devolva mais dúvida. Faço aqui um compromisso de viver e celebrar cada vez mais as minhas certezas, pois a dúvida já me custou tempo, dinheiro e energia demais.